A Visâo Maniqueista - Auto da Barca do Inferno e Auto da Compadecida

O auto da barca do inferno, de Gil Vicente, foi criado num período literário de transição da Idade Média para o Renascimento. Época ainda de “testes”. Testes esses que tinham relações diretas às ações divinas quanto aos pecadores. As pessoas começam, nessa transição, a fazer coisas que para igreja era considerado pecado, mas não se confessavam. Começaram, então, a reparar que não sofriam punições divinas.

Essa obra vicentina representa a critica dos setores da sociedade daquela época, não se fixando aos nomes das pessoas, mas sim aos cargos que elas ocupam, com isso, mostrando que o pecado está inserido em qualquer classe social, desde o sapateiro até ao Corregedor, por exemplo. Também não coloca-se, em hipótese alguma, a culpa da escolha do caminho pecaminoso na igreja, mas como uma escolha individual que terá suas conseqüências no momento do julgamento, ou seja, diante do anjo e do diabo – barca do céu e do inferno.

Na obra de Ariano Suassuna, escrita em 1955, vemos também o pecado inserido em vários setores da sociedade, não tendo personagens idênticos aos da obra Vicentina, mas que se encaixam às criticas feitas a vários setores da sociedade.
No teatro Vicentino, os personagens já chegam na barca mortos com algo que representa seus pecados. O fato de eles carregarem aquilo que os mostra como pecadores significa que eles, em nenhum momento, se arrependeram dos pecados cometidos. Já no Auto da Compadecida há a ocorrência dos fatos que vai mostrando seus pecados e, quando morrem, acontece o julgamento com Emanuel (Cristo), a Compadecida (Maria, mãe de Jesus) e o Encourado (Diabo).

O julgamento dos personagens pelo Diabo e Anjo, representa a visão da igreja de Céu e Inferno, Bem e Mal. Como já citado, no Auto da Barca do Inferno os personagens sofrem um processo de julgamento com o uso dos objetos que carregam, que representam os pecados cometidos ainda vivos. Em nenhum momento falam-se coisas boas que possam ter feito, como acontece no julgamento na obra de Suassuna, que ao decorrer da história vão aparecendo os pecados mas que no julgamento são apontados fatos bondosos sobre os personagens, que os fazem serem todos salvos, com exceção de João Grilo, principal personagem, que retorna ao mundo com vida.

Um ponto importante a ser levantado é, também, o fato de que para se viver na época de transição em que se encontrava Gil Vicente, vivia-se de acordo com as regras citadas pela igreja. Eram apontados aspectos do bem e do mau em todas as ações humanas. Viviam, somente, para serem aceitos no céu e eram punidos aqueles que duvidam das “verdades” ditas pelos “representantes de Deus”. Enquanto isso, no Auto da Compadecida, muitas coisas acontecem relacionando o cenário Católico, mas a única referencia que pode ser levanta é o fato dos costumes nordestinos acima do catolicismo.

Sinopse: No vilarejo de Taperoá, sertão da Paraíba, João Grilo (Matheus Nachtergaele) e Chicó (Selton Mello), dois nordestinos sem eira nem beira, andam pelas ruas anunciando A Paixão de Cristo, "o filme mais arretado do mundo". A sessão é um sucesso, eles conseguem alguns trocados, mas a luta pela sobrevivência continua. João Grilo e Chicó preparam inúmeros planos para conseguir um pouco de dinheiro. Novos desafios vão surgindo, provocando mais confusões armadas pela esperteza de João Grilo, sempre em parceria com Chicó, mas a chegada da bela Rosinha (Virgínia Cavendish), filha de Antonio Moraes (Paulo Goulart), desperta a paixão de Chicó, e ciúmes do cabo Setenta (Aramis Trindade). Os planos da dupla, que envolvem o casamento entre Chicó e Rosinha e a posse de uma porca de barro recheada de dinheiro, são interrompidos pela chegada do cangaceiro Severino (marco Nanini) e a morte de João Grilo. Todos os mortos reencontram-se no Juízo Final, onde serão julgados no Tribunal das Almas por um Jesus negro (Maurício Gonçalves) e pelo diabo (Luís Melo). O destino de cada um deles será decidido pela aparição de Nossa Senhora, a Compadecida (Fernanda Montenegro) e traz um final surpreendente, principalmente para João Grilo.