A Condição Sócio-econômica do Nordeste

Vidas Secas se destaca por apresentar seres oprimidos pela seca no sertão nordestino, onde a condição humana é quase obliterada, devido ao sofrimento, e as relações humanas acabam se definhando, restando apenas o instinto de sobrevivência a guiar os passos de seus personagens.
A narrativa de Vidas Secas ganha impacto em virtude da linguagem adotada pelo autor, que se caracteriza por ser enxuta, concisa, isso auxilia na construção de um clímax que revela a força do meio sobre o indivíduo, principalmente quando a escassez de recursos é uma constante, levando os personagens ao limite de suas resistências.
Em Vidas Secas, ao se retratar os percalços de uma família de retirantes no sertão nordestino, Graciliano Ramos criou uma obra de valor documental, mesmo se tratando de ficção, alcança-se um alto nível de realismo dentro da literatura brasileira.
A estrutura dramática de Vidas Secas é fruto de uma percepção do autor diante da condição humana no meio em que está inserido, produzindo grandes conseqüências no seu modo de viver e interagir nessa situação.

As situações apresentadas por Graciliano Ramos representam um retrato fiel da vida do nordestino que, por falta de perspectivas, torna-se um errante, sem ter grandes perspectivas a mover sua vida, busca a sobrevivência perante à extrema desolação advinda da seca, justifica-se o processo de animalização dos seres humanos, como forma de conseguir manter um mínimo de consciência para sustentar sua sanidade diante de um
ambiente tão inóspito e quase inadequado à vida.
O que torna a obra ainda mais contundente é o fato de ser narrada em terceira pessoa, permitindo a descrição do que passa no íntimo de cada personagem, favorecendo a compreensão das motivações de cada um diante dos desafios que se apresentam, tanto no espaço rural como no urbano.
As relações humanas em Vidas Secas são mantidas como forma de compartilhamento do sofrimento, mas se tornam tão distantes que os diálogos se resumem a poucas trocas de palavras e as interações de afeto e carinho quase inexistem, demonstrando o nível de endurecimento do ser humano, fruto das condições ambientais e da falta de perspectivas reais de mudança de condição de vida.

Outro aspecto relevante na obra é a denúncia do descaso das autoridades com a condição do nordestino, que acaba refém da própria sorte, tendo que contar unicamente com seus parcos recursos para garantir sua subsistência.

A obra de Graciliano Ramos (Vidas Secas) é marcante, ao apresentar de forma fidedigna o drama de uma família no sertão nordestino, cujo sofrimento não é resultado apenas da paisagem desoladora, mas também da incapacidade estatal em apresentar alternativas diante de uma condição precária de vida.
Trata-se de um drama que aflige milhões de pessoas e que foi captada com grande sensibilidade por Graciliano Ramos. Essa sensibilidade é vista, também, na sua transposição para o cinema, em que Nelson Pereira dos Santos conseguiu traduzir em imagens o universo proposto pelo autor.
A valorização estética do ambiente nordestino traduz com habilidade a realidade vivenciada pelos nordestinos. Nesse sentido, tanto o livro como o filme procuram retratar a realidade e a poética existente se revela na aspereza das relações humanas, na falta de diálogo e na humanização da cadela Baleia que, na tela do cinema, é captada com riqueza de detalhes, revelando sua condição quase humana perante aos seres humanos, animalizados pela desolação e sofrimento advindos da seca e da condição social em que se encontram.