O Índio de Iracema

O índio aparece como um tema privilegiado, não simplesmente como conseqüência do espírito nativista e nacionalista formado no povo brasileiro em razão do advento da Independência, nem como forma de suprir nossa “deficiência de Idade Média”, mas por causas mais profundas, como reação à hegemonia literária portuguesa.

Em suma, era o índio aquilo que, sendo genuinamente brasileiro, iria servir como alvo de exaltação, de orgulho e de excepcional, em detrimento daquilo que havia, em nosso país, de estrangeiro, sobretudo de origem portuguesa.
Assim, apenas o índio poderia ser tematizado em nosso Romantismo, uma vez que – além de ser o elemento nativo e pretexto para externar a aversão à hegemonia literária portuguesa – ele representava uma íntima afinidade com a classe dominante.

Em Iracema, a figura do índio aparece como herói romântico. Iracema representa, simbolicamente, a América, cuja história se inicia pela exploração de suas riquezas pelos colonizadores ocidentais, os quais são representados no romance por Martim. Esse simbolismo já denota o cunho ideológico do romance, em que o explorador europeu vai suplantar o povo nativo da América.
O termo Iracema significa “lábios de mel” e expressa a sutileza e o cuidado com que Alencar o escolheu. Nele, existe toda uma conotação de pureza, de submissão, de meiguice e de formosura, o que vai se coadunar com o pensamento de exaltação do índio. Iracema é descrita com a máxima beleza romântica.

 

O Índio do Brasil Atual e o Índio de José de Alencar

 

Para fazer a comparação entre o índio representado na obra de Alencar e o índio dos dias atuais, utilizaremos o começo do livro e seu final.
Como já dito, Iracema é a exaltada pela natureza, tornando-se mais bela que a mesma, mostrando ao decorrer da história seus costumes, seus hábitos, a bravura do índio, suas guerras e mais. O índio na obra esta constantemente ligado com a natureza, suas crenças e seus deuses são elementos da natureza. Chega então o colonizador, Martim, que conquista a amizade de um índio da tribo dos pitiguaras, Poti, o mesmo acompanhando o amigo em batalhas e guerra contra as tribos inimigas.

No fim do livro, após a morte de Iracema e a volta de Martim, que tinha partido para sua terra, Poti considerando-o como um irmão, aceita a nova religião, a cristã, pois queria que “tivessem ambos um só deus, como tinham um só coração”. Com isso, a religião cristã ganha força na terra selvagem, começando a colonização e os índios esquecendo-se de suas crenças.

Com o colonizador conquistando espaço no território brasileiro, os índios começaram a conseguir meios de sobreviver na floresta de pedra que vai surgindo ao longo dos séculos. Começam então a deixar seus costumes, suas crenças e suas identidades como índios, que um dia viviam da pesca, da colheita, dos rituais e das pinturas, para viver em casas, usar computadores, falar uma nova língua, usar roupas de marcas e deixar a pintura, fazendo com que sua cultura seja perdida a cada geração. Poucas são as tribos que ainda são ligadas a seus costumes e crenças.
Hoje, vemos que a magnífica gama cultural indígena vem sendo esquecida, e que não está longe o momento em que o índio que mora na tribo e caça para viver seja trasnformado apenas em um mito, ou uma lembrança.